Em 30 de julho, um bombista suicida fez-se explodir numa manifestação pró-talibã organizada pelo Jamiat Ulema-e-Islam (JUI-F) no distrito de Bajaur, na província de Khyber Pakhtunkhwa (KP). O ataque causou a morte de cerca de 56 civis (incluindo 23 crianças) e mais de 200 pessoas terão ficado gravemente feridas. O incidente está a ser referido como um dos piores ataques que a região sofreu nos últimos anos.
O ataque, que se segue a meses de forte agitação política e a uma crise económica em curso, ocorreu perto de um mercado quando os discursos estavam prestes a começar, à noite (hora local). Mais de 1000 pessoas que participaram no comício eram da JUI-F. De acordo com Fazal-ur-Rehman, presidente da JUI-F, o atacante tinha planeado atingir mais de 400 membros do seu partido. Rehman, que não estava presente no comício, já tinha testemunhado e sobrevivido a mais de duas explosões em circunstâncias semelhantes, em 2011 e 2014.
Há que ter em conta que a JUI-F tem tido associações com islamistas incendiários e ligações com os talibãs no Afeganistão, mas o partido desaprova a tentativa dos militantes de derrubar o governo.
Segundo as autoridades do Departamento Antiterrorista (CTD), o assassino terá utilizado mais de 10 a 12 kg de explosivos.
De acordo com um comunicado divulgado pelos agentes da polícia de KP, a explosão ocorreu nas imediações do palco onde se encontravam muitos dirigentes do partido. "Havia poeira e fumo à volta e eu estava debaixo de algumas pessoas feridas, de onde mal me conseguia levantar, apenas para ver o caos e alguns membros espalhados", disse uma vítima, que foi atirada ao chão pelo impacto da explosão.
A negligência grosseira por parte dos agentes de segurança e do governo tem sido, desde então, o centro das discussões entre os membros da JUI-F.
Os Talibãs do Paquistão (TTP) emitiram rapidamente uma declaração através do seu porta-voz Zabiullah Mujahid, esclarecendo o seu não envolvimento no ataque, afirmando que "tais crimes não podem ser justificados de forma alguma". Vale a pena notar que os militares paquistaneses lutaram com o TTP durante anos em Bajaur antes de declarar a região livre de militantes em 2016.
No final da tarde (hora local) de 31 de julho, foi revelado o mistério sobre o motivo do atentado. A Província de Khorasan do Estado Islâmico (ISKP) reivindicou a autoria do atentado, publicando a fotografia do atacante no canal Telegram da sua agência noticiosa Amaq.
O atentado insere-se no contexto natural da guerra que o Estado Islâmico trava contra a "democracia", um regime hostil ao verdadeiro Islão e em conflito com a sua lei divina", afirma a agência noticiosa.
O ISKP já era considerado suspeito, tendo em conta a sua rivalidade com o ramo afegão do TTP. Outra razão possível pode ser a tentativa de "refletir as divisões" entre os grupos islamistas, de acordo com uma declaração do TTP enviada a a Associated Press. Os responsáveis do TTP são de opinião que o ataque foi cuidadosamente planeado para causar hostilidade entre os grupos islamistas e deteriorar ainda mais a situação de segurança em KP.
A JUI-F tem ligações com os talibãs afegãos e paquistaneses. De acordo com o GuardiãoEm várias ocasiões, o ISKP opôs-se veementemente à associação do partido com os grupos acima referidos e criticou a JUI-F por "trair os seus princípios islâmicos".
O bombardeamento foi condenado por vários países, nomeadamente a Arábia Saudita, a Rússia e os Estados Unidos da América.
A China, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, também expressou a sua crítica ao ataque e estendeu o seu apoio ao Paquistão para "avançar com as suas actividades de combate ao terrorismo". O incidente ocorreu horas antes de o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, chegar a Islamabad para participar num evento que assinala uma década do Corredor Económico China-Paquistão (CPEC).
Tendo em conta que o Paquistão deverá realizar as eleições para a Assembleia Nacional em outubro, os peritos e analistas políticos acreditam que poderão ocorrer ataques semelhantes nos próximos três meses.
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